Hoje seria o momento ideal para falar de uma escola americana, onde várias crianças foram brutalmente assassinadas, junto a alguns professores, que tentaram defendê-las com seus próprios corpos, de um jovem que, logo se verá, por qualquer motivo, quis imitar uma cena de videogame, ou algo similar.
Mas este fato, por mais terrível que seja, ainda pode ser tratado como algo pontual, expressão que, aqui no Brasil, não podemos usar há uns 50 anos, no mínimo.
O Rio de Janeiro é fruto, ou talvez até vítima de um Brasil que, até ontem, era vendido como maravilhoso, de um tal romantismo que se prega em nome do turismo, e que vem jogando a sujeira para baixo do tapete há décadas. Não só no Rio, mas em todo o Brasil.
Esse romantismo brasileiro, genuíno, da malandragem, da mentira, do esperto que sempre se dá bem, que encobre um país de arrastões, chacinas, desgoverno e descontrole.
Sim, o Brasil é um lugar em que não se combate o crime, e muito menos as suas origens. Aliás, aproveita-se dessa desculpa esfarrapada de que a criminalidade só tem vítimas. Criou-se uma geração que prefere ficar justamente neste limbo entre o jovem favelado, pobre, e sem culpa de ser o que é, e o assassino que tem que ser preso, pelo resto da vida. Ficamos ali, neste local confortavelmente omisso. Nem resolvemos o problema da miséria (e abominamos quem tenta resolver) e muito menos enfrentamos o bandido.
Ao invés de apoiarmos ações que promovem a chance de um jovem pobre não virar marginal, e expulsarmos do nosso convívio os que preferem a criminalidade, ficamos aqui, assistindo a estas atrocidades na televisão, como se fosse um filme, uma realidade longe, que nunca irá nos incomodar.
Facções contra milícias, e todas contra o cidadão, que está cercado, sem confiar nas instituições, fugindo dos bandidos com as suas próprias pernas, e diga-se, desarmado.
As imagens do Carnaval são fortes, mas editadas. Tem coisa muito pior para ver. Há muito sofrimento, muitas vidas destruídas diariamente pela violência. São mortes estúpidas, pela droga, por um carro, uma bolsa.
Sem dúvida é o maior problema do nosso país. Engloba a cultura, a corrupção, o egoísmo, a omissão. Afora a confusão legal que empurra o direito de um lado para o outro, e que neste momento foca no combate aos crimes do colarinho branco, como se fossem os únicos, sendo que os crimes violentos andam livres pelas ruas.
São eles que estão fora de controle. São eles que imperam nas grandes cidades, se espalham nas médias, e estão chegando às pequenas, eliminando os locais seguros, e jogando o que resta de orgulho do brasileiro no lixo.
Não é recalque terceiro-mundista, é realismo. Nossa violência é diferente, é incrivelmente presente, é enraizada na cultura, e é inacreditavelmente aceita. É preciso reagir, e rápido, para que a situação não se inverta. Ou se reassume o controle, rápido, ou a violência acaba com o Brasil.